sexta-feira, 16 de março de 2012

- Daruma -

* pintura acrilica sobre tela    2010``
Daruma ou Bodaidaruma é o nome japonês de Bodhidharma, o mestre indiano que viveu no séc. V ou VI dC. É o primeiro patriarca do Zen chinês (Ch'an) e o 28.º na linhagem do Budismo Indiano iniciada por Buda Shakyamuni. É ainda considerado o introdutor das artes marciais nos templos Shaolin.

A tradição conta que Bodaidaruma pertencia à casta dos guerreiros, e era o terceiro filho do rei Koshi. O seu nome de nascimento era Bodaitara (“A Pérola da Suprema Iluminação”) e desde cedo o brâmane Hannyatara verificou a sua predisposição para a prática do Buddhadharma. Contudo, só depois da morte do pai, e após passar sete dias em samadhi, Bodaitara se dirigiu a Hannyatara para receber os preceitos. Desde logo revelou a sua maturidade na prática, e Hannyatara deu-lhe o nome de Bodhidharma (“Aquele cuja Iluminação é Toda-Penetrante”) e profetizou quanto ao caminho que deveria seguir. Depois do Parinirvana do mestre, Daruma deveria viajar até à China para aí transmitir o Dharma. Permaneceu assim junto de Hannyatara durante cerca de quarenta anos, até que a ligação kármica com a China amadureceu e Daruma partiu de barco numa viagem que duraria cerca de três anos. Aportou em Nankai, na costa sul da China e foi recebido pelo Imperador, que lhe perguntou quais os méritos que tinha acumulado ao construir templos, publicar sutras e ao ajudar a Sangha, ao que Daruma respondeu: “Nenhum que se veja!”. O Imperador perguntou-lhe então: “Qual é a essência do Budismo?” “Vasto vazio e nenhuma essência”. Finalmente, o imperador indagou: “Já que dizes que no Budismo as coisas não têm essência, então quem está a falar diante de mim?” e a resposta veio da mesma forma abrupta: “Não sei!”.

Daruma viajou para o Norte e atravessou o rio Yangtze, de acordo com a previsão de Hannyatara. Aí instalou-se no Templo Shaolin Shorin-ji, onde praticou ininterruptamente durante 9 anos, sentado diante de uma parede. Durante esse tempo de meditação, os membros ter-se-iam atrofiado e mesmo caído. Segundo outra história Bodhidharma teria cortado as pálpebras por ter adormecido e ao atirá-las para o chão estas deram origem... ao chá verde. Mais prosaicamente, outra versão indica que Bodhidharma teria trazido alguns pés da planta do chá para a China. Em todo o caso, o chá ficou para sempre ligado à cultura Zen.

Teve poucos discípulos, tendo a linhagem sido transmitida a Hui-k'o. Alguns anos depois da sua morte, um oficial chinês relatou ter encontrado Bodhidharma nas montanhas da Ásia central. Transportava um bastão do qual pendia uma só sandália e disse ao oficial que ia de volta para a Índia. Quando souberam desta história, os monges abriram o seu túmulo. Só lá estava uma sandália. Estas e outras histórias, algumas contraditórias, explicam a iconografia de Daruma, representado frequentemente com metade do corpo, olhos esbugalhados (sem pálpebras), ou transportando uma sandália. Quando lhe perguntaram quanto tempo levou a pintar o retrato de Daruma, Hakui respondeu: "dez minutos e oitenta anos".

Nos escritos que se lhe atribuem, disse: "A única razão da minha vinda à China foi para transmitir o ensinamento súbito do Mahayana. Esta mente é o Buda. Não falo sobre preceitos, devoções ou práticas ascéticas como a imersão na água e no fogo, pisar uma roda de facas, comer uma refeição por dia ou nunca se deitar. Estes são ensinamentos fanáticos e provisórios. Uma vez que reconheças a tua, sempre em movimento, milagrosamente consciente natureza, a tua é a mente de todos os Budas".






* aerografia sobre tela   2009``


Daruma e o Zen

Bodhidharma ensinava que a iluminação não se encontra em livros ou rituais, mas no interior de nós mesmos. E através da meditação limpamos os véus do obscurecimento e recordamos a nossa natureza de Buda.


Bodhidharma definiu o Zen como uma transmissão especial para além das escrituras, que não depende de palavras ou letras, mas aponta directamente para a mente, vendo a nossa verdadeira natureza e alcançando a Iluminação("A special transmission beyond Scriptures, Not depending on words or letters, But pointing directly to the Mind, Seeing into one's true Nature, And realizing one's own Enlightenment").



Esta mente é por ele descrita como, desde tempos sem começo, nunca ter mudado. "Nunca viveu ou morreu, apareceu ou desapareceu, cresceu ou diminuiu. Não é pura nem impura, boa ou má, passado ou futuro. Não é verdadeira nem falsa. Não é macho ou fêmea. Não surge como um monge ou um laico, um ancião ou um noviço, um sábio ou um louco, um buda ou um mortal. Não procura a realização e não experimenta o karma. Não tem solidez ou forma. É como o espaço. Não o possuis e não o perdes. Os seus movimentos não podem ser bloqueados por montanhas, rios ou rochas. Nenhum karma pode restringir este corpo real. Mas esta mente é subtil e difícil de ver. Não é o mesmo que a mente dos sentidos. Todos querem ver esta mente e os que movem os pés e as mãos à sua luz são tão numerosos como as areias do Ganges, mas quando lhes perguntas, não conseguem explicá-la. Pertence-lhes e usam-na. Mas porque não a podem ver?... Só os sábios conhecem esta mente, esta mente chamada natureza do dharma, esta mente chamada libertação. Nem a vida nem a morte a pode libertar. Nada pode. Também se chama o Imparável Tathagata, o Incompreensível, o Eu Sagrado, o Imortal, o Grande Sábio. O nome varia mas não a essência."



* tattoo feirta na expo tattoo rio 2010`` rio de janeiro
       free hand

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